A
Vó, D. Maria Santos, era uma senhora vizinha da casa da nossa família. Eu, sempre que conseguia escapar, fugia para a casa dela. Muitas vezes (a maioria, aliás) ficava de castigo e ganhava boas palmadas
por isto mas, o deleite, de estar na casa da Vó, compensava qualquer punição e eu
voltava a fazê-lo sempre e sempre.
Da
casa desta querida senhora tenho as melhores lembranças da minha infância:
-gatos;
-a imagem da pintura de cachos de uvas num barrado que circundava toda a sala de visitas;
-o
aroma delicioso de um armário onde ficavam os doces caseiros;
-o
quintal com mangas e uvas;
-uma
flor branca de pétalas durinhas, no jardim, com um perfume indescritível que não
vi, nunca mais, em canto algum;
-uma
“pinha” de cristal bem grande no início da escada externa;
-um
porão misterioso;
-uma
carne assada fantástica, Ovomaltine e sopa de sagú;
-televisão;
-sala
de música com cadeiras estofadas em veludo e cortinas de crochê;
-móveis
antigos e lindos, no quarto, com direito a bacia e jarro de louça em cima da cômoda;
-xales
coloridos pendurados na porta interna do guarda-roupa;
-retalhos
de tecido para brincar de costureira e...
-"Brincos
de Princesa" (fuchsias) que me faziam sentir a própria quando os enfiava por dentro dos
meus próprios brincos.
Estas
flores estão no topo da lista das minhas prediletas
Estas
flores estão na ponta da agulha da minha maquina de costura e andam fazendo meu
encantamento de bordadeira.
Estas
flores, agora, são uma série de exclusivos cartões postais!